pra não deixar passar em branco
O Brazil não conhece o Brasil cantava em querelas do Brasil tanto tempo faz e tanto tempo faz, a dependermos dos jornalões, continuamos a não saber do Brasil, nessa letra inesquecível, obra magistral dum dos mortos pelo coronavírus que virou nome de lei socorrista da classe artística nacional, Aldir Blanc.
Esse o refrão dessa canção que une numa pronúncia gringa Brazil com z com uma verborragia de palavras indígenas e africanas numa ritmada batida de samba poema concretista cantado naqueles agudos lancinantes de só Elis Regina…
Pois esse refrão desse canto lamento se cantou pelas ruas Brazil com z inteiro ganhando as primeiras páginas dos jornais do mundo, mas no Brasil com s, cadê?
Nem no Estadão, nem no Globo e na Folha, umas tão míseras linhas?
No El País, sim, havia todo um horizonte de foto lado a lado colorindo a página; nesse el país assim escrito já dizendo que não é jornal pátrio; sua matriz daqui tão distante, um oceano inteiro a nos separar, na Espanha.
E cá na ilha, com mais de uma dezena de veículos de informação que não vale a pena nomear um a um por se prestarem ao exercício leviano do jornalismo, nem uma única acanhada linha, nem uma solitária fotozinha?
Não faz mal.
Pra não deixar passar em branco.
O Nova Imprensa herda não apenas meio nome, mas a lisura e o profissionalismo do saudoso Imprensa Livre e lhe faz jus, noticiando o Fora Bozo Ilhabela com o destaque merecido, aqui, neste espaço.
No Brasil com s inteiro pessoas saíram nas ruas juntas se expondo ao risco de se contaminarem nessa quase terceira onda da pandemia buscando se proteger mascaradas e mascaradas não puderam exibir seu rosto inteiro na expressão do total repúdio a esse brasil pátria amada brasil que afunda os brasis com z e s no pântano da ignomínia, da mediocridade, do ódio, do genocídio não apenas indígena e quilombola. Genocídio de gente de todos os extratos sociais e de todas as cores, principalmente, as pobres e as pretas e surrealmente, as dessas tortas vidas em veneração messiânica a Jair Bolsonaro.
Em Ilhabela a manifestação se insere como a maior e mais impactante das que se tem lembrança. Muito mais que reunião de insatisfeitos, foi um cortejo; um cortejo com força de paralisar o trânsito na Avenida Faria Lima e na Princesa Isabel. Um cortejo fúnebre, de luto por esses quase quinhentos mil brasileiros que morreram de coronavírus, quando milhares deles poderiam estar agora vivos não fosse o negacionismo assassino do governo federal e de muitos governos estaduais e municipais.
fotos: Márcio Pannunzio