Seu Zé Pedro, líder do Quilombo da Fazenda, morre aos 83 anos

Seu Zé Pedro, líder do Quilombo da Fazenda, em Ubatuba, morreu de causas naturais, na madrugada desta terça-feira (18), aos 83 anos. O militante deixa 14 filhos, 50 netos, 30 bisnetos e alguns tataranetos.

Ele vivia no antigo engenho de álcool e açúcar, construído no século 19 por escravos que fugiram de seus donos e iniciaram uma nova organização social no local. Além da história de resistência, o quilombo é uma referência de liderança natural entre os povos tradicionais da região.

Nas redes sociais, manifestações de pesar e gratidão ao homem que “com muita luta e garra nos ajudou a fundar o Quilombo, nosso Grió conservador de nossa história”.

Seu Zé Pedro adorava contar histórias de seus antepassados, além de manter vivo o saber das ervas medicinais. “Ele preservava nossas práticas e costumes tradicionais com muito carinho e amor. Com sabedoria, estimulava a juventude a fortalecer nossa tradição”, relembram os seguidores das redes sociais do quilombo remanescente.

“Era homem, forte, destemido, guerreiro; ele gostava muito de receber visitas para uma boa prosa, esperava sentadinho na cadeira com paciência. Quando ele observava de longe alguém chegando, ele abria um sorriso ou aquela gargalhada gostosa que valia o dia só de ouvir.”

O famoso Seu Zé Pedro

Seu Zé Pedro
(Foto: Quilombo da Fazenda/Divulgação)

O jeito humilde e a simplicidade, simpatia e sabedoria, atraía pessoas do mundo inteiro para conhecê-lo, segundo seus amigos de Quilombo.

“Seu Zé Pedro comentava sobre a morte de maneira natural. Ele dizia: todos nós um dia vamos morrer, mas nosso espírito vai continuar aqui”. Ele dizia também “tudo tem seu tempo e, quando partir, vou na certeza que deixei um grande legado. A Casa de Farinha já não vai ser a mesma sem nosso grande mestre”, finaliza a publicação.

O Quilombo

O Quilombo da Fazenda está localizado na região norte de Ubatuba, em uma das áreas mais preservadas de todo o bioma da Mata Atlântica. A comunidade quilombola possui aproximadamente 200 anos e abriga, atualmente, 67 famílias.

A população ainda vive de seus costumes tradicionais, como artesanato, pesca, produção de farinha, agricultura com cultivo de roças, manejo agroflorestal e, recentemente, o Turismo de Base Comunitária.

A obtenção do sustento vem através da agricultura familiar, a venda de artesanato e principalmente a recepção de grupos para conhecer e vivenciar os costumes da comunidade.
Sua identidade social e étnica está especialmente ligada às práticas de resistência na manutenção e reprodução dos modos ancestrais de vida.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *