Lista expõe mais de 170 nomes de supostos abusadores em Caraguatatuba

Uma lista que está circulando no Whatsapp de mulheres da cidade de Caraguatatuba expõe mais 170 nomes de supostos abusadores. A corrente anônima é chamada de “Exposed” (exposto) e cita assédio sexual, agressão e até estupros que teriam sido cometido pelos acusados. Alguns nomes são de famílias conhecidas na cidade e até de professores da rede estadual e municipal de ensino.

Print da lista #Exposed Caraguatatuba, com mais de 170 nomes
Print da lista #Exposed Caraguatatuba, com mais de 170 nomes

O Exposed começou em outra rede social, o Twitter, com a finalidade de divulgar o abuso sexual sofrido por mulheres de forma anônima devido o medo das vítimas sofrerem represália. Os posts ganharam milhares de acusações com o nome de acusados e a hashtag #exposed, acompanhado da cidade onde o caso ocorreu.

Há quatro dias, o movimento migrou para o Whatsapp em forma de lista, onde mulheres também anonimamente, comentam na frente dos nomes o tipo de crime que teriam sofrido: assédio sexual, verbal, estupro, agressão, relacionamento abusivo, divulgação de nudes e abuso psicológico/mental.

Entre os supostos agressores, 60% são estudantes universitários e do ensino médio.

Motivação da lista

O jornal Nova Imprensa conversou com uma das jovens que participa da ação. Ela teria sido vítima de um jovem com muitas avaliações na lista, entre elas agressão e estupro. A vítima disse ter namorado o rapaz assim que se mudou para a cidade. “Ele me traía, me agredia se eu dissesse algo, era muita pressão psicológica… Eu não conhecia ninguém aqui, fazia faculdade e era estagiária. Ele me ameaçava falando que podia acabar com meu nome, porque seu pai é muito conhecido, por isso me calei. Ninguém acreditaria em mim”.

Outra mulher que denunciou abusos afirmou que a lista serviu para mostrar “a ferida aberta de muitas garotas de Caraguá, que não denunciam por medo”.

Uma jovem, que citou um professor na lista, confirmou que não apenas ela, mas outras amigas foram assediadas por ele dentro da sala de aula:  “um dia, minha amiga, que estava ao meu lado, me avisou que ele tava olhando para minhas pernas”, conta.

Ele teria ainda feito chamada e ao falar seu nome, usado um tom sensual na voz; em outra oportunidade, saído da mesa do professor para sentar-se ao seu lado. “Ele disse que ia fazer teste para ser ator pornô”. Ela teria comentado o acontecido com a coordenadora pedagógica, que “deu uma bronca no professor”. “Todos na escola sabiam”, declarou.

Dos nomes na lista exposed Caraguatatuba constam ainda músicos, filhos de policiais, bem como o filho de um pastor evangélico. Entramos em contato com dois professores  e quatro jovens e todos preferiram não se pronunciar, apesar de cientes da lista.

Um deles nos sugeriu “fazer o mesmo com a lista das meninas”. Ele citou uma lista onde o nome de jovens aparecem com as práticas sexuais que supostamente aceitariam fazer.

Delegacia da Mulher à disposição das vítimas

O Delegado Victor Falcão, da Delegacia da Mulher, Criança, Adolescente e Idoso de Caraguatatuba, informou que, antes de mais nada, caso haja alguma mulher ou adolescente que tenha sido vítima de algum delito, a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), “está de portas abertas, atenta e vigilante, para atender a pessoa e tomar todas as medidas cabíveis para apurar o caso”.

Ele salienta também que “na delegacia especializada, a vítima terá o respaldo da equipe para a acolher, inserir em programas de redes de proteção e mantendo toda a discrição necessária para não expor sua intimidade”.

O delegado lembra ainda que é possível fazer denúncia online de violência doméstica  ou de forma anônima para a Polícia Civil, além do telefone 181.

Má Fé

Assim como a lista exposed pode trazer à luz casos reais de violência contra a mulher,  em contrapartida, pode agregar informações inverídicas ao longo do percurso pelas redes sociais, já que o conteúdo pode ser alterado por qualquer pessoa. Neste caso, acontecem os chamados crimes contra a honra.

A mãe de um jovem, cujo nome está na lista, procurou a redação do jornal Nova Imprensa para informar que seu filho de 19 anos, estudante universitário, é inocente. Ele aparece como se houvesse cometido abuso psicológico.

Ela explicou que fez o boletim de ocorrência contra as supostas administradoras de um grupo de WhatsApp chamado #exposedCaraguatatuba e irá processa-las. “Meu filho está bem tranquilo quanto a sua inocência, pronto para qualquer tipo de averiguação que tenha que passar”, ela finaliza.

A redação recebeu ainda prints de tela de comentários de garotas que teriam aproveitado a lista para fazer brincadeiras, incluindo nomes aleatórios “para diversão”. Uma delas chegou a comentar: “estou curtindo a resenha”.

Segundo o artigo 138 do Código Penal , “caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime, prevê pena de detenção de seis meses a dois anos e multa. Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propaga ou divulga”.

No artigo 139 diz que “difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação, a pena de detenção é de três meses a um ano e multa”.

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