Com mais de 200 anos, Congada de São Benedito celebra fé e tradição em Ilhabela

Não tem como falar de cultura em Ilhabela sem lembrar da Congada de São Benedito. A festa é celebrada nas ruas do arquipélago desde 1794, de acordo com registros do arquivo do Estado de São Paulo. Em 2018, a Congada será comemorada junto a Semana da Cultura Caiçara, com shows musicais, exposições, cinema e quermesses, além dos tradicionais rituais religiosos.

A programação começa nesta sexta-feira (18), com o levantamento do Mastro de São Benedito, distribuição de bolo e concertada, em frente à Igreja Matriz, na Vila. No sábado (19), a partir das 22h, o cantor Almir Sater subirá ao palco para apresentar seus grandes sucessos. No domingo (20), também a partir das 22h, será a vez do Grupo Paranga, de São Luiz do Paraitinga animar a festa. O tradicional Baile dos Congos acontece às 10h e às 14h no sábado e no domingo.

 
História
A festa da Congada conta com teatro de rua, comida, música, dança e muita devoção. A alegria dos tambores e da tradicional marimba, das flores e das cores atrai centenas de expectadores locais e turistas todos os anos.

O Baile dos Congos, momento mais esperado da festa, representa a história da guerra entre os reinos de Congo, cujos súditos do Rei, sempre vestidos de azul, são cristãos e devotos de São Benedito, contra o exército de Luanda, que são os mouros pagãos e vestem as cores vermelho e rosa. Quando o exército azul do Congo consegue derrotar a tropa inimiga, o Rei acaba concedendo o perdão em nome da bondade de São Benedito. O embaixador se emociona com o perdão concedido pelos vencedores e se torna mais um devoto fiel do santo, assim como seu povo.

E o romance não poderia ficar de fora da história. O Rei do Congo havia se apaixonado por uma mulher do povo e com ela teve um filho, mas por medo das consequências deste amor em seu reinado, mandou a amante embora ainda grávida. Ela foi para Luanda e teve o bebê, que se tornou, justamente o embaixador de vermelho que volta para aterrorizar o reino do Congo. Em busca de seus direitos acontecem as batalhas, mas a misericórdia de São Benedito é maior e sela o destino dos dois reinos, do pai e do filho.

O atual Rei do Congo e principal personagem da história, o Dino, tem 53 anos de Congada. Ele participa dos rituais desde os cinco e substituiu o saudoso Dito de Pilaca que faleceu em 2015 com 95 anos, ainda participando ativamente da Congada.

Como não poderia deixar de ser, a festa segue o calendário da natureza caiçara. Durante mais de 200 anos, baile sempre aconteceu no “claro” de maio, período de lua cheia, quando a água clara do mar dificulta a pescaria e, assim, os pescadores da comunidade estão em terra e podem participar dos festejos.

São Benedito

São Benedito é o único santo negro da igreja católica. Nascido na Itália e filho de escravos etíopes, o santo deixou suas marcas em Ilhabela, onde a comercialização de escravos moveu a economia durante dezenas de anos. Inclusive a população negra que foi trazida de diversos países africanos era maior do que a de homens livres na época da colonização. Os descendentes dessa história ajudaram e formar a nação e a identidade caiçara. E eles não poderiam deixar de se identificar com a trajetória do santo protetor dos humildes.

O escravo Roldão

O mítico fundador da Congada em Ilhabela desembarcou em Castelhanos por volta de 1785 trazido nos porões de um navio negreiro. Os mais antigos organizadores da Congada contam que o escravo Roldão foi essencial para consolidar a festa nas terras do arquipélago. Ele era tio-avô da famosa Dona Ana Esperança, umas das primeiras líderes da culinária da Congada, a Ucharia. Hoje é sua família que ainda cuida da tradição da cozinha congueira.

Ucharia

A culinária é parte essencial no ritual da Congada, afinal São Benedito também foi cozinheiro e conhecido por seus pratos saborosos. Em Ilhabela ainda é comum encontrar a imagem do milagreiro dentro das cozinhas, para garantir a fartura. E quando o fogo se acende na cozinha da Congada, é sinal de muita fartura.

A Ucharia reúne centenas de pessoas para uma deliciosa refeição coletiva. A comida é preparada pelas mãos das mulheres dos congueiros, com ingredientes doados pela comunidade católica. O alimento é preparado ainda nos tradicionais fogões “tacuruba”, montados manualmente sobre pedras grandes que assentam os enormes tachos e panelões.

A palavra Ucharia significa “despensa da casa real”, local onde era comum acontecerem as refeições dos escravos. Nos dias de hoje, os devotos ainda lembram dessa parte triste da vida dos negros, mas segundo os congueiros foi essa história de batalha que criou um povo tão forte, batalhador e que não esquece nunca da fé.

Programação

Dia 18 – Sexta-feira

15h – Casinha Caiçara com Velha Verônica e Vandinho Caiçara – café, bolo, biju e concertada para conversas e histórias caiçaras. A Casinha fica no Centro Cultural da Vila e estará aberta para visitação das 10h às 20h
17h – Levantamento do Mastro de São Benedito / Distribuição de bolo e concertada – em frente à Igreja Matriz
19h – Quermesse e shows – Praça Coronel Julião
21h – Show Aline Outa

Dia 19 – Sábado

8h30 – Meia Lua / Procissão de São Benedito – Ruas da Vila
10h – Baile dos Congos – Ruas da Vila
10h, 15h e 18h – Casinha Caiçara com Velha Verônica e Vandinho Caiçara – café, bolo, biju e concertada para conversas e histórias caiçaras
12h30 – Ucharia de São Benedito – Igreja Matriz
14h – Baile dos Congos – Ruas da Vila
19h – Quermesse e shows – Praça Coronel Julião
21h – Felipe Bianchi e Trio
22h – Show Almir Sater

Dia 20 – Domingo

6h – Alvorada Festiva
8h30 – Meia Lua / Procissão de São Benedito e Missa dos Congos – Igreja Matriz
10h – Baile dos Congos – Ruas da Vila
10h, 15h e 18h – Casinha Caiçara com Velha Verônica e Vandinho Caiçara – café, bolo, biju e concertada para conversas e histórias caiçaras
12h30 – Ucharia de São Benedito – Igreja Matriz
14h – Baile dos Congos – Ruas da Vila
18h – Procissão e Missa de São Benedito – Igreja Matriz
19h – Quermesse e shows musicais – Praça Coronel Julião
21h – Larissa Cavalcanti
22h – Show Grupo Paranga

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