Alunos ocupam escola e entram nos protestos contra reforma do ensino

Estudantes da E.E. Colônia dos Pescadores seguem no quinto dia de ocupação pelo não fechamento de salas em 2016

(Fotos: Nova Imprensa)



Os alunos da Escola Estadual
Colônia dos Pescadores, que fica no Indaiá, região central de Caraguatatuba, aderiram às manifestações contra o plano de reestruturação do ensino, proposto pelo governo do Estado. 
Os estudantes do Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) seguem no quinto dia de ocupação da unidade. Eles reivindicam o não fechamento de salas em 2016 e melhorias nas condições de ensino.

O plano do governador Geraldo Alckimim é separar os alunos em três ciclos de ensino: crianças do 1º ao 5º ano, pré-adolescentes do 6º ao 9º e jovens do ensino médio. Com a mudança, 311 mil alunos seriam transferidos e 93 escolas, fechadas. A Secretaria de Estado da Educação divulgou nesta terça-feira (1°) que o número de escolas ocupadas chegou a 200 no Estado. O Sindicato dos Professores (Apeoesp) contabiliza 205 unidades paradas.

Em Caraguá, os estudantes reivindicam o não fechamento de salas de aula em toda a região do Litoral Norte Paulista, ampliação da oferta de vagas para Educação de Jovens e Adultos (EJA), juntamente com um estudo de demanda para a modalidade e com ampla divulgação dos resultado. Além da permanência do ensino noturno.


Os pedidos foram protocolados junto à Diretoria de Ensino – Regional de Caraguatatuba, na última segunda-feira (30). Os alunos pedem esclarecimentos dos pontos reivindicados para encerrarem o movimento, mas de acordo com eles, ainda não obtiveram nenhuma resposta oficial. Os alunos afirmam que foram informados apenas verbalmente que a escola não deve ser fechada, pois não está na lista do plano de reorganização estadual, mas eles querem uma garantia legal por parte das autoridades.

A escola está ocupada desde as 18h45 de quinta-feira (26) e grupos com cerca de 40 alunos se revezam para manter a ocupação 24h.  A secretaria da escola ainda funcionava até a tarde de sexta-feira (27), quando a direção teria oficializado o recesso que se mantém até hoje. O movimento conta com apoio de alguns professores da unidade e de educadores do Litoral Norte, que auxiliam com aulas e atividades, bem como pais e membros da comunidade que ajudam com doação de mantimentos e outros recursos. 



De acordo com uma das alunas que ocupa a unidade, a ação começou quando perceberam que a oferta de vagas na escola estava diminuindo. “A ideia de ocupação veio
quando começamos a perceber que ao ter procura de matrícula, a resposta era que
somente a re-matrícula estava garantida e o terceiro ano da EJA. Como eles vão saber a demanda se a informação que temos é que não
estariam aceitando matrículas? Queremos garantias documentadas”, disse a jovem, que preferiu não se identificar.

A conselheira do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), Perla Martins, diz que o processo de
fechamento de salas em Caraguá já ocorre há alguns anos. “Após a desativação de diversas unidades, a
 E.E. Colônia dos
Pescadores passou a receber diversas transferências e é, hoje, 
uma das maiores do Vale do Paraíba, com aproximadamente 1,2 mil matrículas, em três períodos com 12 salas cada. Com isso, a gente encara o problema da superlotação e de uma lista de espera imensa”, conta ela.


Uma das estudantes, de 16 anos, não entende a diminuição de turmas e o possível fechamento da escola, dado o bom nível de qualidade de ensino no local, segundo avaliação nacional e estadual. “Minha sala tem 46 alunos e têm outras que já passaram dos 50. O nosso ensino, mesmo com superlotação é um dos melhores de Caraguá, pela nossa dedicação e dos professores que se desdobram em mil”, diz ela.

Organização

Para manter a organização do movimento, todas as ações durante a ocupação
são feitas mediante assembleia, onde os alunos têm direito a voz e voto, e os demais
direito a voz. Nestes encontros, os estudantes definem se mantém a ocupação e fazem a divisão de tarefas para a autogestão (alimentação, dormitórios, segurança,
atividades, etc.).


A primeira assembleia
ocorreu na quinta-feira (26) após uma reunião fechada da direção e
representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Com um único voto
contrário, o grupo de aproximadamente 100 jovens decidiu pela ocupação.

De acordo com os estudantes, a
diretora da escola não quis se manifestar nas assembleias, porém teria se pronunciado em uma
rádio de Caraguatatuba e afirmado que não havia necessidade da ocupação, pois a
escola não será reorganizada. “Ela tentou deslegitimar o movimento e nesta
mesma rádio o locutor ainda teria nos colocado como vândalos que invadimos a
escola com pichações, o que não é verdade. Cuidamos e limpamos a escola e
estamos aqui para garantir nosso direito à educação”, destaca uma estudante de
15 anos.

A assembléia da última segunda-feira
(30) contou com a presença da diretora e da vice que responderam publicamente a
perguntas dos alunos. Segundo os estudantes, elas continuam afirmando que a
escola não está na lista do projeto de reorganização, mas não teriam dado garantias
que não haveria diminuição de salas em 2016 e teriam afirmado que haveria uma
acomodação dos alunos por bairros mais próximos das residências.

Intervenção policial

Os estudantes contam que a Polícia
Militar está constantemente no entorno da escola e que o único momento em que
houve impasse foi na noite de sábado (28). “Eles vieram em quatro viaturas e
cinco motos e disseram que receberam uma denúncia de violação de patrimônio
público. Aí ficou tenso”,
comenta um aluno do terceiro ano do ensino médio.

Os alunos em assembleia deliberaram que um policial
poderia entrar e verificar que não houve violação e nem depredação. “Ele entrou
e viu que está tudo no lugar e não houve problema, mas toda hora eles ficavam
perguntando quem era o líder e não existe isso, decidimos tudo em assembléia”,
finaliza o jovem.

Ameaças

Conforme informações dos alunos, no
domingo eles teriam recebido informações que havia um grupo contrário a
ocupação que viria com os pais e ainda que outros estudantes que não fazem
parte da ocupação pretendiam se infiltrar e vandalizar para criminalizar o
movimento.

Os estudantes contam que chegou ao
ponto de uma das alunas do período noturno ter sido ameaçada e ainda receber
xingamentos preconceituosos em um grupo das redes sociais. Amigos teriam visto
e fotografado as mensagens. O amigo da jovem informou que com medo, ela teria
tentado registrar um boletim de ocorrência na delegacia e não teria conseguido,
pois pediram para ela nome completo e número do RG dos acusados.

“Ainda no domingo à noite, alguns
apareceram pedindo para entrar, inclusive um deles fazia parte dos que
ameaçaram, mas decidimos não autorizar a entrada para garantir nossa segurança”,
diz um dos rapazes ao contar que agora preferem não se identificar com medo das
ameaças.

Os alunos ainda afirmam que
funcionários da escola teriam falado que se eles continuassem com a ocupação
poderiam perder o ano e que quem estivesse no terceiro colegial ia ficar sem
diploma para entrar em uma faculdade. Porém, Perla explica que não
faz sentido este tipo de ameaça, uma vez que estas três semanas de dezembro
geralmente são usadas para pendências e que o último mês não deve interferir na graduação dos jovens.

Apoios

No final de semana o movimento
permitiu que o programa Escola da Família funcionasse normalmente, mas só
permitiram a entrada de quem fosse participar das atividades do projeto. Além
dessas ações, o projeto recebeu professores para um debate sobre feminismo e
ainda o maracatu “Baque das Mina”, grupo que começou junto a Associação
de Amparo a Mulher Sebastianense (Ames), fizeram uma apresentação e ainda
ensinaram os alunos um pouco de percussão.

Oito integrante do “Baque das Mina”
mostraram o ritmo do maracatu aos jovens. “Eles aprenderam o ritmo e depois
pediram para a gente ensinar a tocar em ritmo de funk, pois queria tocar o hino
de todas as escolas ocupadas. Foi muito bom”, fala Lígia Ferreira, uma das
organizadores do grupo de cultura popular.



Os alunos pedem que outros estudantes participem das assembleias e venham somar com o movimento. Também pedem a contribuição de alimentos, pois estão 24h na escola, e que professores e outros artistas de qualquer cidade venham também e tragam algo para ensinar e acrescentar ao dia-a-dia.



A ocupação conta com o apoio do Grêmio Força Jovem, Apeoesp, UNE, União Estadual dos Estudantes (UEE), Diretório Acadêmico Jovem Eremias (Dajed), União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Mais informações sobre a ocupação na página Facebook www.facebook.com/ocupacolonia.

Diretoria de Ensino

Segundo informações da assessoria
de imprensa da Secretaria do Estado da Educação, a EE Colônia dos Pescadores
não está na lista das escolas a serem reorganizadas, porém não podem afirmar nada quanto à diminuição ou aumento de turmas da unidade, uma vez que a quantidade
de salas depende da demanda, principalmente no caso do EJA, que é avaliada no
remanejamento administrativo que ocorre todo início do ano.



Cenário estadual


A reorganização de ensino por parte do Estado é motivo de protestos desde o dia 9 de novembro e o sindicato dos professores afirma que está aberto ao diálogo. Na contramão desta ideia, o chefe de gabinete da Secretaria da Educação, Fernando Padula Novaes, foi filmado pelo site Jornalistas Livres afirmando é preciso adotar “tática de guerrilha” para acabar com o movimento.



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